As características, comportamentos, vestimentas e hábitos que definem um grupo social, e que, geralmente, não são as mesmas praticadas e adotadas pela cultura imposta, são chamadas de estigmas sociais.
Na Sociologia, o estigma está relacionado à classificação de um grupo por outro. Normalmente, o grupo social e culturalmente dominante ou mais adaptado aos hábitos, culturas e comportamentos, classifica de formas muitas vezes excludente e marginalizadora o outro grupo.
Todo aquele que não é considerado adequado ao padrão cultural imposto é considerado um estigma para a sociedade. Olhar o outro a partir de um estigma social pode acentuar os comportamentos e manifestações preconceituosas e estereotipadas sobre o outro e seu comportamento.
O estigma é visto de acordo com a realidade e contexto social da sociedade analisada. Não necessariamente um comportamento ou hábitos considerados inadequados para uma sociedade serão para outra.
A análise etimológica da palavra estigma a define como aquilo que é considerado indigno, com má reputação. Na Grécia Antiga, a palavra definia marcas corporais feitas em escravos ou prisioneiros de guerra. Na Antiguidade, o estigma era entendido como uma marca no corpo daqueles que estavam doentes e não mais serviam para o convívio social.
Seja por meio de marcas físicas ou por conceitos sociológicos, o estigma social, ao longo dos séculos, sempre colaborou para a separação de grupos considerados deslocados do padrão social dominante. A estigmatização de um grupo é um dos elementos formadores do preconceito e das práticas de exclusão social.
Com a obra Os estabelecidos e os outsiders, o sociólogo Norbert Elias, juntamente com John Scotson, analisam a existência do estigma social em uma pequena cidade inglesa. A exclusão de um determinado grupo, os outsiders, garante a imposição e dominação das práticas culturais dos estabelecidos e a afirmação de valor e superioridade dos mesmos.
A análise serve como uma metáfora para as relações do mundo moderno. Da mesma forma, a exclusão dos outsiders garante a dominação e propagação do estilo de vida, valores e ideias dos estabelecidos. As práticas culturais e hábitos dos outsiders são constantemente desvalorizadas e inferiorizadas.
Ao longo da História, muitos grupos foram classificados nas categorias de estabelecidos e outsiders. Na Grécia Antiga, escravos e prisioneiros de guerra eram marcados na pele para que fossem rapidamente identificados como não pertencentes de, maneira formal, ao grupo social. Não compartilhavam dos mesmos hábitos e imposições dos valores culturais.
Na Idade Média, as mulheres e os portadores de doenças físicas e mentais foram excluídos socialmente. Naquele contexto social, a Igreja atuava juntamente com a nobreza como o grupo de estabelecidos, cujas regras, normas e forma de viver eram consideradas como o padrão adequado.
Durante o período da escravidão, os negros vindos principalmente da África eram o grupo considerado outsider, por estarem fora do contexto social, político e cultural de onde viviam. Eram tratados como seres de menor relevância social e serviam apenas para o trabalho escravo braçal.
Mesmo com o fim da escravidão em 1888, os ex-escravos tiveram dificuldades para se integrarem ao meio social organizado pelos estabelecidos e, ainda hoje, sofrem com o preconceito, violência e dificuldade ao acesso de alguns bens e serviços.
No fim do século XX e início do século XXI, outros grupos foram incluídos na categoria de outsiders e sofreram com o preconceito, a padronização e normatização de hábitos e formas de comportamento.
A existência de fortes parâmetros para definir quem tem comportamento adequado ou não, permite com que os grupos dominantes atuem com a intenção de excluir e inferiorizar outros grupos, inclusive com o uso de violência física, verbal e psicológica. O bullying, por exemplo, é uma prática usada para inferiorizar e diminuir as características do outro.
É preciso que as minorias consideradas desajustadas sejam observadas de forma crítica, pois as diferenças muitas vezes estão ligadas às realidades socioeconômicas e políticas.
A população negra teve que enfrentar sozinha o desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte, sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis, mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, os privilégios e arrogâncias de poucos correspondem ao desfavorecimento e à humilhação de muitos.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).
Em relação ao argumento de que no Brasil existe uma democracia racial, o autor demonstra que